sábado, 28 de junho de 2008

Um falecido e três sem terra presos em Seringueiras RO

Enquanto estava em Sao Miguel, o Pe. Afonso, advogado da CPT, me liga.
Ontem houve um violento despejo dos sem-terra acampados em Seringueiras, a paróquia vizinha.
É o quinto despejo que sofrem. A polícia jogou balas de goma e bombas. Crianças ficaram machucadas.
Três deles foram detidos e levados para São Miguel.
Vou na delegacia atrás dos nomes dos detidos, sem conseguir ver eles.
Procuramos um advogado de aqui para atende-los. Pela tarde, sabemos que também faleceu um dos acampados, que pasou mal depois do despejo. Faleceu por infarte.Um dos advogados da cidade chega a visitar os detentos, porém mais nada.Não conseguimos defensa para eles.
Procuro na delegacia, no fórum , no ministério público. Não acho ninguém.
Finalmente chega o Dr. André, o delegado, que me atende muito bem.
Facilita a visita aos detidos e explica que foram presos por mandato de prisão do juiz, Carlos Augusto Lucas Benasse, acusados de diversos fatos: queima da sede da fazenda e do curral, etc.
O delegado facilita arrumar os números da documentação deles e cópia do mandato de prisão, de forma a poder apresentar, segunda feira, hábeas corpus pedindo a libertação deles.
Hoje, familiares dos acampados trazem colchões para eles, arrumados pelas irmãs de Seringueiras. Eu levo também sabonete, pasta dental, ...
Mais um acontecimento criminalizando os movimentos sociais por fatos que não eles fizeram.

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As Famílias do Projeto Natureza Viva

Em São Miguel do Guaporé estou participando da assembléia do Projeto Natureza Viva do Vale do Guaporé, financiado pela CEI, Conferência Episcopal Italiana.
Trata-se de pequenos agricultores que mostraram interesse por iniciar experiências de trabalho ecológico em seus sítios.
Esta ajuda financeira serviu para começar um trabalho em linha agroecológica.
Foram realizados convênios de assistência técnica com a COACARAM, uma cooperativa de comercialização de café, com sede em Ji Paraná, e com a EFA, a Escola Família Agrícola com sede em São Francisco.
Dois técnicos agrícolas visitam as famílias e as orientam em seus projetos para melhorar o trabalho, procurando uma agricultura ecológica, sem uso de agrotóxicos e que ajude a recuperar o meio ambiente.
Cada família fez suas propostas de trabalho e recebeu também um fundo de ajuda para comprar material e equipamentos. Assim, muitos que tem café na lavoura, para deixar de usar herbicidas, optaram pela compra de roçadeiras de mato, pagando eles mesmos parte do equipamento. A avaliação é que tem ajudado muito, passando desta forma a produzir café orgânico (biológico). Também tem dispensado o uso de veneno para roçar o mato nas cercas e nos pastos.
Outros, para evitar mais derrubadas e conservar melhor o pasto, compraram cercas elétricas e fizeram mais piquetes nos pastos. Dividindo mais o pasto, o gado não fica andando e pisando por todo lado. Enquanto fica pastando num piquete, no outro lado da cerca o capim tem tempo de se recuperar e crescer, aproveitando melhor o espaço. Este sistema simples também tem ótimo resultado no controle de pragas, como o garrapato e a mosca do chifre do boi, pois quebra o ciclo de desenvolvimento das larvas.
Algumas famílias optaram pelo plantio de fruteiras, destinadas a produção de polpas de fruta na usina da Associação de São Miguel do Guaporé. Enquanto que outras famílias compraram cercas e galões para produção de biofertilizantes, procurando a formação de hortas e experimentando, ainda que com dificuldades, o plantio de verduras sem uso de agrotóxicos. Alguns tem posto na feira e conseguem comercializar uma produção de verduras totalmente orgânicas.
Já por iniciativa da Escola Família Agrícola, muitas famílias tem realizado um esforço de reflorestação nos cursos de rios e igarapés desmatados. Na Linha 33 de São Francisco, foi realizado um mutirão de plantio de mudas de árvores. O objetivo era começar a recuperar uma nascente de água. A atividade tem o apoio da toda a Paróquia e foi adotada como gesto concreto da Campanha de Fraternidade.
Seguindo várias experiências de outros lugares, tem se realizado cursos de homeopatia, com remédios naturais para tratamento de doenças da criação; de produção de minerais naturais para complemento da alimentação do gado, e produção de compostos e ajuda de minhocas para produção de húmus e de adubo natural.
Com muita humildade, cada família expõe o que tenta fazer, com luta e dificuldades e muito trabalho, que nem sempre conseguem realizar. Assim teve agricultor de Costa Marques que chegou a plantar por oito vezes tomate, sem conseguir que a praga de ferrugem não acabasse com as plantas. Outros conseguiram colher bastante feijão e amendoim. E muitos já terminaram a colheita de café, totalmente livre de uso de venenos.
Nestes dias deve ser discutida a coordenação do projeto, realizada por José Silva e José Ossak, dois dos próprios agricultores do projeto, com orientação técnica e administrativa da Comissão Pastoral da Terra, e as parcerias da Acaram e da EFA, assim como das Paróquias do Regional centro da Diocese.
O Projeto foi idealizado e acompanhado pela CPT de Rondônia, pelo técnico agrícola Marcos Antônio Machado, e hoje continua com o acompanhamento de Roseli Maria Magendanz.
O grupo está representado na Articulação Estadual de Agroecologia, e pleiteia pesquisa oficial em linha ecológica e sustentável, assim como cursos e aplicação de recursos governamentais, e uma linha de crédito oficial, pois os bancos do governo até agora recusam projetos de agroecologia, com a desculpa que falta “base científica” nos mesmos.
Um grande esforço com o objetivo de viver a partir do trabalho na roça, e realizar a missão recebida de Deus por toda a Humanidade, de cuidar e colaborar com Ele na obra da Criação.

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domingo, 15 de junho de 2008

Os seringueiros do Rio Cautário



O Rio Cautário é afluente do Guaporé. Ele faz divisa entre os municípios de Guajará Mirim e Costa Marques. Atualmente forma parte duma reserva extrativista.
Nela vivem os últimos seringueiros da região. Vivem de recolher castanha, tirar seringa, fazer farinha de mandioca, e da abundância de caça e de pesca da área, vizinha do Parque da Serra da Cutia.
Eles têm realizado uma funçaõ extraordinária para proteger a floresta e o meio ambiente, pois contiveram repetidos intentos de invasão da frente de grileiros de terra, que avançava desde o distrito de Sao Domingos do Guaporé em direção a Surpresa.
Esta foi a vez deles de receber energia solar em suas casas. Em total foram quarenta e cinco moradias beneficiadas com instalaçao de um painel solar e rede de energia para duas ou tres lâmpadas por casa, nas comunidades de Laranjal, Canindé, Cajueiro e Jatobá.
Pouca coisa, porém muito pára quem continua dependendo da lamparina para iluminaçao doméstica e continua excluido, pelo menos até agora, do "Luz para Todos".

O financiamento do projeto é da organização MANOS UNIDAS, da igreja espanhola, e a realização do projeto da Pastoral Fluvial. A Associação AGUAPE dos seringueiros se comprometeu a fornecer as baterias. Com José Aniceto Ruiz e Víctor Cojubim formamos a equipe de instalaçao dos paineis Kyocera, fornecidos pela SOLAR BRASIL.
Para nossa surpresa, no Canindé fazia dez dias tinham chegado mais nove famílias. Eles chegaram na reserva extrativista depois de um longo éxodo, pois apesar de viver mais de 30 anos como seringueiros do Rio Machado, eles estavam dentro da Reserva Biológica de Jaru.
De novo, comunidades tradicionais sofrendo sendo castigado pelo rigor da proteçao de meio ambiente, rigor que nao é costume de oferecer aos verdadeiros devastadores da floresta.
Este grupo de quarenta pessoas ficaram jogados num acampamento de sem terra no ramal Jequitibá, em Candéias do Jamari, até que foi decidida sua ubicaçaõ no alto Rio Cautário.

Na foto, seu Pedro Galdino de Sousa, ribeirinho expulso da Rebiu de Jaru.
O pe. Zezinho Simionatto foi dos que, ainda poucos dias antes de morrer, ajudou eles a solucionar o problema. Com alguma assistência do Ibama e acolhidos pelos seringueiros do Cautário, eles hoje se encontram cheios de ilusao, construindo suas casas e fazendo canoas para seu futuro destino, enquanto ocupam provisionalmente algumas casas desocupadas da comunidade do Canindé.
Porém, por enquanto, ficaram fora do projeto, sem receber placas solares. Tal vez consigamos outras nove para eles.

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