sexta-feira, 24 de abril de 2009

Mensagem-Homenagem aos povos indígenas

Povos indígenas,
Procurem
O caminho, o seu caminho!
Peguem o terçado,
Abram a picada!
Vão com cuidado,
A cada passo,
Abram o olho!
Na mata do branco,
Armadilha,
Tem em todo canto;
Se olharem o presente,
Não é como antigamente,
Cadê a floresta do passado,
E o pajé para curar o doente?
Não percam a esperança!
Muito do que mudou
Ainda está vivo.
A direção
Está gravada
No fundo do seu coração.
Filhos da natureza,
Livres como o vento,
Encantadores
Como pássaros
Que pela manhã
Pousam no quintal
E voam sem dar sinal,
Tenham certeza,
Sua cultura milenar
Não é uma “vela”
Que pode apagar!
Debaixo das cinzas,
Escondidas no chão,
As sementes de seus valores
Já vem brotando;
A cada amanhecer,
O sereno as faz crescer.
Acordem, povos!
Estiquem os seus arcos!
Retomem as suas terras e sua dignidade!
Busquem união e solidariedade!
Abrem a trilha da partilha
E da reciprocidade,
Novo caminho para a sociedade,
Esperança para a humanidade.

CIMI-Guajará-Mirim

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segunda-feira, 6 de abril de 2009

Ameças de morte em São Francisco do Guaporé

Diante da campanha de intimidação com ameaçãs de morte que se espalham pela cidade de São Francisco do Guaporé RO, acho melhor publicar e o que está acontecendo e registrar as ameaças de morte que estamos sofrendo o líder indígena Tanadí Miquelém e eu mesmo, Pe. Josep Iborra Plans, zezinho.
Motivo: A proposta de demarcação das terras indígenas do povo indígena miquelém.
Os indígenas miquelenos são um povo ressurgido. Eles se autodenominavam "Huanyam" e moravam na beira do Rio São Miguel, afluente do Guaporé, aqui em Rondônia. A presença deles está testemunhada por diversos relatos de começo do século XX: Do cientista americano J. D.. Haseman , do antropólogo sueco Erland Nordenskiöld e do primeiro bispo de Guajará Mirim, Dom Xavier Rey, en 1932, quando subindo pelo río San Miguel escreve em seu diário: "Ao meiodia passamos e paramos em Prainha e na entrada da noite em Porto Murtinho, primeiras malocas de índios mansos com alguns civilizados".
Com ajuda do CIMI de Guajará Mirim, os miquelenos disperos por Rondônia começaram a se reencontrar depois do ano 2000, realizando diversas assembléias. Entre eles se encontrava seu Marcilino, hoje já falecido, morador de Guajará Mirim, último falante da língua miquelém, língua indígena de tronco txpacura.
Os miquelenos fundaram uma associação e reivindicaram com apóio da VI Câmara do Ministério Público Federal o reconhecimento oficial como povo indígena. Hoje eles tem carteira de identidade indígena e escola diferenciada. Também reivindicaram o retorno ao Limoeiro, vila de onde diversas famílias foram expulsas em 1984 pelo Ibama, depois que a área fosse declarada Reserva Biológica do Guaporé.

Um levantamento preliminar realizado a instâncias do MP, seguindo as indicações dos indígenas mais velhos, indicou como possível território indígena não somente a área do Limoeiro, dentro da Rebio, mas também no outro lado do Rio São Miguel: na vila de Porto Murtinho, (onde moram até agora algumas famílias deles), e Prainha, uma área ocupada por fazendeiros, e inclusive antigos castanhais onde hoje existem algumas linhas de colonos. Isso provocou a reação de todos os afetados, que poderiam perder suas terras. No ano de 2005 a assembléia anual dos miquelenos foi invadida, com o prefeito de São Francisco, Sr. Abraam Paulino a frente, sofrendo ameaças os indígenas, os membros do CIMI e representantes do Ministério Público. Somente foi possível recomeçar com proteção policial requerida pelo MP.
Naquela época os agentes de pastoral da Paróquia de São Francisco já procuramos e ofrecemos ajuda da CPT para defender os legítimos direitos de posse dos pequenos agricultores, pois ninguém deles ocupou a área de má fé, nem sabiam que podia se tratar de área indígena. O Dr. Ernandes Segismundo, na época assessor jurídico da CPT RO, visitou a área e disse não ter necessidade, por enquanto, de nenhuma ação jurídica. Ainda hoje o objetivo da defesa dos legítimos direitos dos pequenos agricultores forma parte do Plano Trienal da CPT RO.
Atualmente ainda não foi criado o GT: Grupo de Trabalho que deve determinar oficialmente o território indígena. Somente foi contratada uma antropóloga pela Funai que realizou um estudo preliminar, que ainda não é conhecido, pois faz pouco tempo que foi apresentado.
Neste ano 2009 a situação esquentou depois que o Dr Francisco Marinho, Procurador da República de Porto Velho, que faz seis anos que acompanha a situação, a pedido dos miquelenos em outubro de 2008, esteve a inícios de fevereiro no local, informando os fazendeiros e agricultores da situação e tentando acalmar os ânimos. O efeito foi o contrário do pretendido: O Dr Marinho apontou a possibilidade que os afetados recebessem indenizações por suas posses, o qual confirmou o temor de perder as terras e provocou o pânico entre os presentes.
Muitos deles acusam o CIMI e a Igreja em geral de esta situação, e eu mesmo em particular. A Irmâ Thereza Canossa, membro da CPT RO, que esteve presente nessa reunião, retrucou que a Igreja e a CPT defende a permanência do homem na terra, e recebeu salvas de palmas.
Resultado disso foi uma reunião posterior (onde ninguém de nós foi convidado) convocada pelo novo prefeito de São Francisco, Sr. Jairo, com presença do Senador de RO Expedito Júnior, e outros políticos, manifestando-se contra "essa idéia diabólica", e incendiando mais os ânimos.
Depois desses dias, diversas matérias publicadas por mim neste blogs e em outros na internet (http://elperiodico.com/blogs/mapamundi/blogrondonia/)
falando deste conflito, foram difundidas na cidade, reforçando a acusação de que eu era o culpado pela proposta de criação desta área indígena.
Por diversas pessoas me chegaram avisos que tinha gente comentando em público que "se perderem as terras, o Pe. Zezinho vai para cova", ou que "iria me reunir com o Pe. Ezequiel", ou que "já estava na hora do Pe. Zezinho morrer".
Assim mesmo, também sofreu diversas ameaças Tanadi Miquelém, líder dos indígenas miquelenos, que atualmente mora em São Francisco do Guaporé, apesar que ele defende apenas o retorno ao Limoeiro, e afirma para todo o mundo que não pretende como território indígena as terras ocupadas por fazendeiros e colonos.
Em anexo, uma das matérias difamatórias publicadas em internet com o meu nome, antes das eleições de outubro de 2008.
São Francisco do Guaporé, segunda feira santa, 06 de abril de 2009..
Pe. Josep Iborra Plans, zezinho


Foto: Indígenas miquelenos e puroborás em Porto Murtinho, em 2006.

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sábado, 4 de abril de 2009

Crise energética e energia solar

A crise energética mundial é um dos motivos do interesse pelas hidrelétricas na Amazônia. Aqui temos as do Rio Madeira, e as pequenas centrais no Rio Branco. Quarenta quilômetros abaixo moram os tupari, macurap, aruá e outrso indígenas. Para eles faz tempo que da energia elétrica somente chegam os prejuizos de ter as centrais nas cabeceiras dos rios. A CPT nacional fez a proposta no ano passado de realizar em todos os regionais algum projeto alternativo de energia elétrica descentralizada. Apenas agora, terminando o mes de março, nós instalamos os últimos 34 paineis solares de nosso projeto de energia solar. Em total beneficiou 200 famílias. Mais os projetos anteriores, 400 famílias foram beneficiadas.
Daqui agradecemosa todos os que fizeram isso possível. Em especial a Manos Unidas, entidade da Igreja Católica na Espanha. Desta vez o mais difícil foi chegar onde as famílias beneficiadas moravam.


Eu saí de São Francisco num carro baixo, e a estrada sem asfaltar estava na pior situação. Na metade do trajeto até Costa Marques fiquei atolado num buraco cheio de água. Conseguí sair para trás, porém o carro quebrou. Fiquei no prego. Depois de algumas horas de espera, uma das pocas camionetes que passava me rebocou até São Domingos do Guaporé. Lá não tinham a peça de reposto. Somente no outro dia foi possível chegar até Costa Marques.
Depóis de arrumar e carregar o barco, ao meiodia estávamos navegando. A mais do Víctor vinha o seu genro, Marinaldo, e o instalador dos paineis, José Aniceto. Depois de navegar toda a noite, no outro dia, domingo, paramos para rezar missa em Versalles. Pela noite chegávamos a Pau d'Olho.
Lá deixamos o barco guardado e carregamos todo no bote de alumínio: placas solares, fiação eléctrica, tábos de madeira, lâmpades, interruptores, controladores, etc. . Também nossas bolsas de roupa, redes, comida, panelas, pratos, uma pequena cozinha, bojão de gaz, ... e alredor de 140 litros de gasolina para um motor de popa de 15 HP. Mais nós, no bote de oito metros e meio.
A previsão de viagem até a boca do Branco e subindo até o Palhal, a primeira aldéia, era de 12 horas. "O rio está limpo" tinham falado para nós. "Somente tem uma cocha de capim". Em novembro, com pouca água, não tinhamos podido passar. Porém, depois de três horas de navegação, chegando no Rio Preto, o motor falhou. Apesar do José, Xinita, ser mecânico experiente, tivemos que voltar remando. Cinco horas a remo, de volta a Pau d'Olho.

Lá conseguimos por sorte um motor emprestado: Uma rabeta de 5 HP. Mais devagar, no outro dia voltamos a tentar. Ao meio dia tinhamos passado do Rio Preto. Começamos a passar alguns paus atravessados e cochas de capim, empurrando com nossas varas. Passamos sem dificuldade o ponto onde ficamos em novembro: O "Furo da Cachaça". Não tinha rastro das abelhas que nos tinham atacado, tal vez porque a casa delas tinha ficado coberta pelas águas, que tinham subido cinco o seis metros.
Porém logo achamos a "cocha" de capim. Tão densa e cumprida que a gente não via o final dela. Com muita dificuldade fomos empurrando o bote com as varas, abrindo caminho de forma lenta e penosa. Porém chegou um ponto que não deu para avançar mais. Encalhados no meio da cocha. O tempo ameaçava chuva e começõu a chover. Tentamos cortar uma galhadas e desta vez algumas avispas nos atacaram. O único jeito foi descarregar toda a carga, e arrastrar o bote por cima do capim. Tão compacto que dava para andar nele quase como em terra firme. E carregar tudo de novo mais adiante.
Completamente molhados finalmente fomos seguindo adiante. O Palhal ainda estava bem longe. Somente ao anoitecer chegamos lá.
O resto foi mais fácil, porém também cansativo. De aldéia em aldéia, em tres dias subimos quase até o início da área indígena, no Barranco Alto. Subindo, parávamos e íamos entregando placas solares para as famílias que não tinham. Sofrendo do sol escaldante e das chuvas torrenciais na viagem pelo rio.

Depois começamos as instalações e a descida. Cada família tinha arrumado um esteio para segurar o painel solar no exterior da casa. Na maioria de lugares nos preparavam a comida: arroz, farinha de água, carne de caça, e peixe pescados de arco e flecha nos igapós e campos inundados da beira do rio.
O grupo nos instalávamos nas escolinhas ou nas casas de apóio de cada aldéia. Meus companheiros dormiam na rede e eu numa bararquinha que também serve de mosquiteiro. Em algumas das aldeias achámos auxiliares de enfermagem atendendo no posto, e em outro lugar, até dentista. Também encontramos com a Virgínia e o Mas, a equipe do CIMI de Ji Paraná, que estávam visitando a área indígena.
Nós não podemos atender todas as famílias com placas solares. Ficaram para trás umas quarenta e poucas, as que estávam mais acima, mais perto da estrada que vai até Alta Floresta. Existe o plano de construção duma linha elétrica convencional. Porém quando chegará lá? Estes dias, depois da volta, esteve falando sobre isso com várias autoridades.
Na volta tivemos que arrastrar de novo o bote na cocha de capim. Porém a carga já era mais leve. Chegamos de noite ao barco. Lá o colchão estava mais acolhedor que na barraquinha. E eu tinha deixado guardada um pouco de roupa limpa e seca. Chegando a Costa Marques, a viagem de retorno de carro até São Francisco também não foi fácil, porém isso já é outra história.

Foto: Preparando chicha na comunidade de Trindade.

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