Saímos para visitar a área indígena do Río Branco-Rivoredo, afluente brasileiro do Guaporé.
A beira do Rio Branco moram os indígenas do povo tupari, aruá, macurap, jabuti, aricapu e mais alguns. E por perto outro grupo de indígenas isolados. Neste tempo o Rio Branco, mesmo ter começado as chuvas, tem ainda pouca água. E fazia tempo que ninguém passava por lá. Os indígenas normalmente não passam por aqui, pois se deslocam rio acima, onde sai a estrada para Alta Floresta d'Oeste. Alta Floresta fica muito longe para nós e tentamos chegar subindo pelo Guaporé até a boca do Branco, duas horas acima de Pau d'Olho. Ao final não conseguimos chegar nem na primeira aldeia.
Em Pau d'Olho deixamos o barco grande e de rabeta subimos cinco horas pelo Branco, atravesando a Reserva Biológica do Guaporé. A vegetação é exuberante e muitas aves fogem apavoradas a nosso passo: graças brancas, patos selvagens, maguaris, biguás,... Também aparecem muitos tracajás, que puxam a cabeça fora da água, curiosos para ver o que está acontecendo, para fugir logo rapidamente nas águas amareladas.
As capivaras disputam as praias com os perigosos búfalos salvajens, que fugiram da fazenda do estado. Por fortuna, nenhum deles nos ataca, nem o jacaré açu que fica de espreita a poucos metros de nós, enquanto paramos para comer nosso arroç ao meio dia. Depois terminamos de ajeitar nossos varejões com forquillas para passar as "cochas" de capins flutuantes que se amontoam acima das árvores caídas, fechando o rio. Algumas "cochas" ficam tão firmes que a gente pode andar por cima delas, e temos que arrastrar o bote de alumínio com sua carga pesada.
Cada trecho de "cochas" nos custa um penoso trabalho, até chegarmos a uma grandiosa árvore atravessada de lado à lado do rio. Teremos que cortar pelo menos uma das grossas galhadas de machado para passar. Porém... quando damos os primeiros golpes, nos ataca um enxame de furiosas abelhas vindas de dentro do pau. Largando o medo dos jacarés pulamos na água, empurrando a canoa abaixo, para nos afastar. As abellas me pegam sobre tudo a mim, me ferrando na cabeça e nas mãos, pois ficava com elas segurando no bote.
Mais tarde fazemos outro intento de nos aproximar. Pensamos em esperar à noite, fazer fogo e fumaça,... Porém o pior é que ainda não chegamos no Furo da Cachaça, que precisa atravessar arrastrando a canoa. E todo o mundo diz que acima de lá, no Laranjal, é que o rio está feio mesmo. Decidimos voltar atrás. Fica de noite descendo pelo rio. Numa volta, no escuro, topamos com dois búfalos tomando baño, porém por sorte também eles fogem. E nós não ficamos lá para esperar. Antes de meia noite estamos de volta no Pau d'Olho.
No outro dia, ficamos descansando no barco. Pelas ferradas de abelha eu fico com as mãos inchadas e doloridas, e com um pouco de febre, apesar de ter tomado um antihistamínico. Enquanto Vítor e Mari vão pescar, esperamos até à tarde. Antes duma furiosa tempestade volta o Pinheiro, o chefe do IDARON, que toma conta do Pau d'Olho, reabrindo a fazenda, que tinha ficado abandonada por muitos anos. Eles têm um trator que poderia nos levar até o Palhal, a primeira aldéia. Porém dizem que o caminho já não está nada bom, com estas chuvas. Por enquanto os indígenas do Rio Branco teram que nos aguardar mais tarde, e ficam sem as placas solares que estávamos levando lá.
Quem resulta beneficiado, na voltam são dez famílias bolivianas de Versalles, que ainda não tinham instalações de energia solar. Até no quartel da capitania de marinha montamos instalação de placas e lámparas para a bateria. Em Versdalles à primeira noite rezamos missa, e na segunda temos palestra com o grupo de preparação da crisma.
Também conversamos com uma equipe do IPHAE, o Instituto de Patrimônio Histórico Brasileiro. Estão pesquisando os numerosos restos de cerâmica e de potes precolombinos, que aparecem em todas as terras altas do Guaporé. Falamos sobre o Monte Castelo, uma pequena montanha que existe no meio do campo natural de Pau d'Olho. Eles tem chegado até lá com o trator de Pau d'Olho: Dizem que já foi estudado. Era uma antiga aldéia com restos datados em mais de seis mil anos, por um povo diferente daquele que fabricava as cerámicas. Eles eram comedores de moluscos. Por isso o chão está chéio de estratos de conchas pisadas, que utilizavam para o chão do interior das casas.
Em Santo Antonio del Guaporé visitamos as famílias e rezamos missa à noite. No outro dia instalamos também duas placas. Nos comentam alguns dos problemas da comunidade. Uns dizem que o INCRA já venceu a causa do território da comunidade. Porém parece que o IBAMA está querendo impor um termo de conduta inaceitável. Porém dá a impressão que o pessoal tem medo e não fala quase nada. Uma das famílias está preocupada, pois foram denunciados de ter derrubado muito mato, quando somente tinham preparado, de machado, uma pequena roça.
domingo, 16 de novembro de 2008
Viagem frustrada ao Rio Branco
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