domingo, 11 de abril de 2010

Os wuajuru

Os indígenas wuajuru são nativos da região de Rolim de Moura do Guaporé, localidade ribeirinha e quilombola que hoje está dentro do município de Alta Floresta. Foi pela mão do jesuita potugués Pe. Agostinho Lourenço que próprio Antônio Rolim de Moura Tavares, primer Capitão General do Mato Grosso, no século XVIII fundou o lugar como Missão de São José.
Já no começo deste século achamos apenas na região pequenos grupos de indígenas sometidos pelos seringalistas no Rio Mequéns e no Colorado, em colocações conhecidas como Cerrito, Ururões e igarapé Terebinto. Aqui é onde residiam os wuajuru.
Um grupo indígena restou sempre irredutible vivendo em liberdade isolados na floresta. Ainda hoje continuam sem contato na terra indígena Massako, a primeira a ser demarcada no Brasil para um grupo indígena isolado.
Enquanto que seus vizinhos mequens e sakarabyat conseguiam demarcar também uma pequena parte do seu território no Rio Mequens, os wuajuru tiveram pior sorte e foram despejados pelos jagunços das empresas Camargo e Corréia e Rober, que abriram fazendas no lugar onde moravam.
Hoje é o ex governador de Rondônia, Ivo Narciso Cassol quem comprou estas fazendas, e alguns dos mesmos capangas que expulsaram os indígenas continuam ainda aí, ameaçando eles.
Parte dos indígenas wuajuru foram morar nas aldéias indígenas da Baia das Onças, Ricardo Franco, no baixo Guaporé, e no Río Mamoré, na aldéia de Deolinda. Outros moram em Guajará Mirim e Pimenteiras. Algumas mulheres casaram com quilombolas e com seringueiros e moram ainda em Rolim de Moura do Guaporé.
Foi neste lugar que os wuajuru começaram a se reencontrar, reivindicando o reconhecimento da identidade dos indígenas dos moradores do lugar, a revitalização de sua língua e cultura (hoje a língua wuajuru tem apenas dois falantes) e a devolução do seu território tradicional.
Foi de Ricardo Franco para Rolim do Guaporé que o barco Dom Roberto fez sua primeira viagem deste ano 2010. Aproveitando par deixar na aldéia de Ricardo Franco um grupo de pajés do Río Branco que iam realizar seu encontro tradicional, quatro famílias de wuajurus embarcaram, adultos e crianças nesta semana santa.
O Dom Roberto remontou penosamente a forte corredeira Guaporé, própria desta época de chéia. Problemas na bomba de água atrapalharam todo o percurso, tendo que trocar duas vezes de corréia. Porém tocando o leme dia e noite, ainda sobrou tempo para pescarias de piranha e para uma parada no meio dia, respeitando o dia santo da sexta feira. Pela noite do domingo de Pásqua o barco estava em Rolim de Moura.
Pelo caminho, rápidas paradinhas em Costa Marques, Santo Antônio e Pedras Negras permitiram conhecer também a evolução das comunidades quilombolas nestes meses.
Enquanto em Surpresa começava na segunda feira a Romaria do Divino de 2010, os wuajurus se encontravam, irmâs com imâs, parentes com parentes, reforçando os lazos de identidade enfraquezidos pela dispersão, reunidos em assembléia.
Com presença de representantes do CIMI, da Funai, do Ministério Público Federal, da Secretaria Municipaç de Educação e da Polícia Forestal sediada em Rolim do Guaporé, diversos assuntos foram tratados.
Um dos desejos, de visitar o lugar de origem, o Cerrito, não foi possível realizar por estar o rio entupido de cochas e a estrada por terra trancada com cadeado.
Porém o retorno na terra tradicional recebeu notícias animadoras do MPF, anunciando que o departamento de demarcação de terras da Funai já disponibilizou recursos no orçamento deste ano para começar um estudo preliminar oficial.
Não somente das terras wuajurus, mas também dos Cojubim, no Rio Cautário, e o GT dos territórios miqueleno e puruborá.
Apesar da destruição que algumas pessõas, sem consciência do valor do patrimônio arqueológico, ainda em toda a beira do rio de Rolim é possível observar potes enterrados no chão da cerâmica que deu fama a Missão de São José.
Eu mostrei alguns destes pedaços recolhidos no chão pelas ruas aos alunos da escola, para os quais expliquei as origens dos povos indógenas e quilombolas na região, com as sucessivas colonizações e frentes de penetração.
Rolim de Moura do Guaporé vive um momento de especulação mobiliária provocada pela abertura da estrada até a Baia da Ponte e uma forte presença de turistas e pescadores amadores no tempo da seca. Os originários do lugar, que cuidam das praias i da preservação dos quelônios, sentem que a pesca já diminuiu com a abertura da estrada e a chegada massiva de pescadores sem muito controle. A administração tem distribuido datas para construção de casas, porém os filhos da terra não tem recebido delas.
Por outro lado, a través do Programa Terra Legal, que começar a regularização fundiária, sem que ainda esteja resolvida a criação dos territórios quilmbola e indígena na comunidade.
De retorno, as famílias wuajurus visitantes não carregavam somente macaxeira, carne ecomida fornecida pelos parentes de Rolim. Também mudas de banana, sementes de fruteiras, de feijão, ramos de macaxeira para plantar, galinhas e até cachorrinhos.

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