segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Festa do jacaré, dos arara de Ji Paraná

A semana passada participei da festa do povo indígena arara de Rondônia. Eles moram na região de Ji Paraná, na bacia do Rio Machado. Do contato de inícios do século XX e das epidemias dos anos 40 sobreviveram apenas umas 200 pessoas, que moram nas aldéias de Iterap e Pajpap, compartilhando a Área Indígena Lourdes com o povo gavião.

Eles mantém viva a língua arara, de tronco tupi, usando o portugués para os contatos externos. Porém como todos os indígenas, eles sofrem a demonização de suas tradiciões religiosas e culturais dos pastores pentecostais. Os missionários católicos (e luteranos), ao contrário, les animaram a realizar esta festa tradicional, que fazia cinco anos que não celebravam mais.
Com ajuda do COMIN, da Pastoral Indigenista de Ji Paraná e do CIMI, conseguiram um projeto para financiar diversas atividades de revitalização cultural: Plantio de taboca para flechas, cursos de tecido de algodão, sementes de frutas para pinturas corporais, etc.
A realização desta Festa do Jacaré significou um importante elemento de resistência, de recuperação da identidade própria e de autoafirmação cultural e tradicional. Isso lhes ajudará a ficar mais unidos e enfrentar os diversos desafios que os amenaçam. Entre eles, a construção duma barragem no Rio Machado, a hidrelétrica de Tabajara.
Fiquei soorprendido de que além dos momentos rituais e de dança, de banquetes e de celebração, teve demorados momentos (eu quase não entendia nada) nos quais as principais lideranças (e todos os que desejaram) poderam se expressar e manifestar. Inclusive diversas mulheres falaram.

Pedro Arara, o cacique de la aldea de Pajpap, e a esposa dele, Maria, receberam e acolheram todos os convidados da aldéia vizinha e todos os visitantes convidados por eles.
Enfeitados com os vestidos, pinturas e tradicionais cocares de penas, os arara incorporaram na festa todas as gerações: desde bebés até anciãos, passando por jovens e adolescentes, homens e mulheres. Inclusive muitos que já tem aderido ao agressivo cristianismo pentecostal participaram das danças, pinturas e rituais. Até da bebida fermentada de batata doce e macaxeira: a macaluba. Do qual todos foram bebendo nos momentos importantes, sem que ninguém chegasse a ficar bêbado.
Os guias da festa, os pajés, líderes espirituais e culturais da comunidade, dedicaram-se a fondo e estavam exultantes revivendo os rituais de profunda significação comunitária. A Festa do Jacaré foram uns dias extraordinários.

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