segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Eu vou jejuar também


Eu vou jejuar também.
Cansei de apagar tantos e-mails, lançados como gritos clamando o céu pelo Rio São Francisco. Enquanto Dom Cappio começou o seu jejum, eu tenho continuado insensível, sentado no meu computador, repassando mensagens, divulgando o protesto, e não fazendo mais nada. Continuando a tocar minha agenda, e fazer minhas reuniões.
Indo embora, enquanto em Porto Velho os movimentos sociais têm se manifestado, unidos contra as hidroelétricas. Enquanto mais um leilão privatiza nossas águas, tira os peixes de nossos rios e ameaça de fome os indígenas, quilombolas e ribeirinhos, brasileiros, peruanos e bolivianos de nosso Rio Guaporé e de todos os rios acima do Madeira.
Enquanto mais uma lei injusta nega os territórios aos quilombolas.
Não vou ficar mais quieto, só vendo acontecer.
Agora eu vou parar, jejuar e rezar também, pelo menos um dia.
Unindo meu gesto insignificante aquele de Dom Cappio, que nos mobiliza a todos.

Vou jejuar na Área Indígena Rio Branco, junto dos indígenas tupari, macurap, aruá e jabuti.
Eles também sofrem pelas centrais hidrelétricas, construídas em suas terras ancestrais, destruindo seus cemitérios, ocupando seus territórios, seqüestrando as águas de seus rios, matando os tracajás de suas praias.
E ficando as escuras, sem sequer receber parte da energia que produzem.

Eu vou jejuar e rezar também.
São Francisco do Guaporé, 10 de dezembro de 2007.
Fotografia: Sao Francisco, companheiro da caminhada. Pintura de Cerezo Barredo na Igreja de Sao Francisco do Guaporé, RO.

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